quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Fala do velho do restelo ao astronauta


Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.


( José Saramago )

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O instante
Inconcebível
Reflete
As máscaras
Que caem
Dos porcos!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

As coisas

As coisas têm peso, massa,

volume, tamanho, tempo,

forma, cor, posição,

textura, duração, densidade,

cheiro, valor, consistência,

profundidade, contorno, temperatura,

função, aprência, preço,

destino, idade, sentido.

As coisas não têm paz.

(Arnaldo Antunes